Carta ao Leitor

Os ricos e os endividados

Valter Campanato/ABr Manifestação de moradores próximos a Congonhas: cobertura da mídia foi outra tragédia O balanço socioeconômico do primeiro semestre é novamente histórico. O setor automobilístico vende o que produz […]

Valter Campanato/ABr

Manifestação de moradores próximos a Congonhas: cobertura da mídia foi outra tragédia

O balanço socioeconômico do primeiro semestre é novamente histórico. O setor automobilístico vende o que produz e com fila de espera. O setor imobiliário vive momentos de euforia, do alto padrão ao popular. O comércio palpita como um coração desatinado. De 2003 para cá, o estoque de empregos com carteira assinada subiu de 18 milhões para mais de 22 milhões. A massa salarial cresceu de 91 bilhões de reais para 109 bilhões. O volume de crédito saltou de 26% do PIB para os atuais 32%, com os bancos projetando 37% ao final deste ano. Nessa nova economia surgem 19 novos milionários por dia. Além desses novíssimos ricos, há ainda um contingente de executivos e diretores, trabalhadores com rendas superiores a 1 milhão de reais por ano.

Agora, não dá para aceitar passivamente a forma como o bolo cresce: os novos ricos, e os velhos de sempre, se esbaldam enquanto a maioria da população vai – embora um pouco mais satisfeita – se endividando, à forra das compras com a prestação que cabe no orçamento e sem se preocupar com juros ou o valor total a pagar. O momento exige muito debate sobre o futuro do país e as contrapartidas sociais que o crescimento econômico pode produzir. A começar pelos salários e acessórios que compõem a remuneração da força de trabalho brasileira, principal fermento desse bolo que não pára de crescer e, ainda, uma das mais mal pagas do mundo. Passando pela reconstrução da educação pública, de modo a torná-la capaz de proporcionar oportunidades à juventude e de produzir pensamento crítico.

Num Brasil socialmente maduro, moderno e justo que a maioria luta para construir, não terão espaço os que operam pelo retrocesso. Nem para os que fazem de desastres como o de Congonhas um espetáculo de sensacionalismo para vender notícia e fazer luta política das mais baixas, não importando a verdade nem a dor das pessoas. No Brasil sonhado pelos irmãos Betinho, Henfil e Chico Mário e desenhado por Elifas Andreato – celebrados nesta edição – essa elite retrógrada e preconceituosa terá, ela própria, de pensar uma forma mais digna de coexistir na democracia com povo.