cidadania

Sangue bom

Doar sangue é simples, salva muitas vidas e mais da metade dos brasileiros só doa quando alguém conhecido precisa. Mas tem gente entendendo bem a importância de levantar essa bandeira

Mauricio Morais

Fábio Mortari doando plaquetas

O  advogado Fábio Mortari é apaixonado por natação, corrida e alpinismo. Há dois anos, dedicou-se a um intenso treinamento para poder passar o Natal num lugar inusitado. O monte Aconcágua, a 6.959 metros do nível do mar, ponto mais alto do continente, nos Andes Argentinos. E, para mostrar que dá valor como poucos ao sangue quente que corre em suas veias, plantou em plena cordilheira uma bandeira da Fundação Pró-Sangue. Fábio não trabalha em hemocentro. Mas ajuda a causa como poucos e faz de tudo para estimular a doação. Aos 39 anos, já doou sangue mais de 50 vezes.

“Gosto de ajudar alguém sem saber quem é essa pessoa. Além de colaborar com o outro, doar sangue faz com que a gente passe a prestar mais atenção na própria saúde”, explica Fábio. E dá um recado para quem não tem o hábito: “Nunca tive problema na hora de doar, jamais passei mal. E sangue doado não faz falta a ninguém. É reposto em poucos dias.” De fato, a reposição do plasma ocorre em 24 horas e a dos glóbulos vermelhos em quatro semanas, para quem doou 450 mililitros de sangue. Um gesto, portanto, muito simples para o tamanho de sua importância. Uma em cada cinco pessoas que são internadas vai precisar de transfusão de sangue. Cada doação pode salvar, em média, três vidas.

Um desses destinatários desconhecidos de Fábio Mortari pode ser Isabel Olinda Santos, de 24 anos, que procura emprego como bancária e quer estudar jornalismo. Ela recebeu a primeira transfusão aos 3 meses de vida. Aos 8 anos, descobriu que tem aplasia pura de série vermelha. Em outras palavras, a medula de Isabel não produz glóbulos vermelhos e, por isso, ela precisa receber sangue em intervalos médios de 20 dias. A doença causa-lhe dores terríveis de cabeça, irritação e fraqueza.

“Às vezes, não tenho força para dobrar o cobertor. Quando recebo sangue, muda tudo. Eu me sinto forte de novo. Quem doa está passando um pouco de sua vida para mim, mesmo sem saber que sou eu que vou receber. Agradeço a Deus toda vez que vou ao hemocentro e tem sangue no estoque. Já teve vez que precisei e as prateleiras estavam vazias. Foi um desespero!” Enquanto a doença rouba as forças de Isabel, a solidariedade de quem doa as devolve rápido, e permite que mantenha seu sonho de estudar e se realizar profissionalmente. Mas para isso ela precisa de sangue. “Perca o medo”, pede Isabel. “Você vai fazer um bem inimaginável para gente como eu.”

A transfusão de sangue é necessária em situações que vão desde sua perda aguda em cirurgias e acidentes até o tratamento de doenças como hemofilia, câncer – principalmente leucemia –, anemias, transplantes e hemorragias internas. Acredita-se que o brasileiro, em geral, não doa sangue por uma questão cultural. Em países onde ocorreu guerra ou catástrofe, as pessoas desenvolveram o hábito de doar regularmente. Cinqüenta por cento dos brasileiros que doam sangue o fazem para alguém conhecido.

isabel

Tudo o que você precisa saber para salvar vidas, como a de Isabel

Para doar é preciso
– Estar em boas condições de saúde
– Ter entre 18 e 65 anos
– Pesar no mínimo 50 kg
– Estar descansado e alimentado (evitar alimentação gordurosa nas 4 horas que antecedem a doação)

Impedimentos temporários
– Gripe (aguardar sete dias)
– Gravidez
– 90 dias após o parto normal e 180 dias após cesariana
– Amamentação (se o parto ocorreu há menos de 12 meses)
– Ingestão de bebida alcoólica nas 4 horas que antecedem a doação
– Tatuagem nos últimos 12 meses
– Situações nas quais há maior risco de adquirir doenças sexualmente transmissíveis, como não usar preservativos com parceiros ocasionais ou desconhecidos: aguardar 12 meses

Intervalos para doações
– Homens: podem fazer nova doação após 60 dias da última, até o limite de 4 por ano.
– Mulheres: podem fazer nova doação após 90 dias da última, até o limite de 3 doações por ano.

Impedimentos para doação
– Hepatite após os 10 anos de idade
– Evidência clínica ou laboratorial das seguintes doenças transmissíveis pelo sangue: hepatites B e C, AIDS (vírus HIV), doenças associadas aos vírus HTLV I e II e doença de Chagas
– Uso de drogas injetáveis ilícitas
– Malária

Fundação Pró-Sangue: Posto de coleta Clínicas: Av. Dr. Enéas Carvalho de Aguiar, 155, 1º andar, Consolação, São Paulo. Segunda a sexta, das 7h às 19h. Sábados, domingos e feriados, das 8h às 18h. Estacionamento gratuito por até 2 horas, Estapar – Garagem Clínicas. Outras informações sobre sangue e pontos de coleta: www.prosangue.sp.gov.br. 0800 55 0300.