Editorial

Um novo planeta possível

Cesar Ferrari/Reuters Zilda Arns, vida dedicada às crianças do mundo, levada pelo terremoto de 12 de janeiro Começou em 31 de dezembro, quando o mundo festejava a virada de ano. […]

Cesar Ferrari/Reuters

Zilda Arns, vida dedicada às crianças do mundo, levada pelo terremoto de 12 de janeiro

Começou em 31 de dezembro, quando o mundo festejava a virada de ano. No meio da tarde, um manto escuro subiu do Polo Sul e cobriu parte do sudeste brasileiro. No primeiro dia de 2010, chuvas nunca antes vistas produziram os deslizamentos da Ilha Grande e de Angra dos Reis; fizeram subir o rio que varreu São Luiz do Paraitinga, cidade histórica da serra do mar paulista;  causaram inundações dia após dia no interior e na capital de São Paulo. O Rio Grande do Sul sucedeu a Santa Catarina em catástrofes e Minas Gerais viveu dias de transbordamentos. A mitológica Machu Pichu, no Peru, teve seu dia de fúria.

Durante dois meses, movimentos desiguais de ventos provocados pelo calor e pelo aquecimento do oceano – que produzem o El Niño – trouxeram monções diárias para a parte debaixo do Equador, enquanto na parte norte do planeta temperaturas abaixo de zero bateram recordes.

Embora haja quem enxergue nessas catástrofes as agressões ao planeta, as “águas de março”, já diagnosticadas nos versos de Tom Jobim, sempre estiveram entre nós. Porém, a enorme concentração urbana e o distanciamento da natureza emburreceram o homem, desde o humilde cidadão que constrói sua casa em qualquer área de risco até a classe média que busca a melhor vista no platô, passando pelo poder público, que não hesita em asfaltar mais e mais vazantes e mangues para dar lugar aos carros, símbolos de um modelo de desenvolvimento e de urbanização esgotado.

A humanidade foi sábia com a agricultura a partir da observação dos fenômenos naturais, cidades levaram em conta solo, vegetação, planaltos, planícies, rios, lagos, mar para ser erguidas. Hoje nada disso parece ser ponderado nas decisões.

Entretanto, vem do Haiti – sucumbido por seguidos terremotos, sendo os primeiros deles a colonização e a escravidão – o exemplo de que há uma nova ideia de desenvolvimento sendo gestada no mundo. A uma velocidade surpreendente, a globalização pôs em xeque as relações imperialistas entre as nações. Brasil, Cuba, Venezuela, Irã, EUA, Europa e África, Israel e Palestina praticam uma cooperação jamais vista no planeta.

Tanto quanto os acordos em defesa do clima e do ambiente, a solidariedade diante das catástrofes, do homem e da natureza, é um desafio para já. Como lembrou o jornalista Ricardo Kotscho em seu blog, o publicitário Carlito Maia dizia conhecer dois tipos de gente: os que vieram ao mundo a serviço e os que vieram a passeio. Com mais gente a serviço, a exemplo do que faziam dona Zilda Arns e outros brasileiros no Haiti antes do terremoto, o planeta terá jeito.