cidadania

Um passo adiante

Programa criado por entidades sindicais que editam a Revista do Brasil ganha novo fôlego com a mudança para a FM

Quem não tem concessão, nem pode se limitar a transmitir para um raio de quatro quilômetros, como se exige das rádios comunitárias, busca outras alternativas no espectro. Setores dos movimentos sociais entendem a eficiência do rádio e se articulam de diferentes formas para fazer sua comunicação circular. Algumas das entidades sindicais envolvidas no projeto de publicação da Revista do Brasil também unem esforços num projeto radiofônico e vêm colhendo bons resultados.

A experiência do Jornal dos Trabalhadores havia começado em julho de 2004, com a locação de um espaço de uma hora, nas manhãs de segunda a sexta-feira, na Rádio Nove de Julho AM. Desde dezembro, o projeto recebeu alguns investimentos que permitiram migrar para a FM, melhorar a qualidade da transmissão e da recepção, ampliar seu potencial de ouvintes para todos os municípios da Grande São Paulo e dar seus primeiros passos na internet.

O programa, agora Jornal Brasil Atual, vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 7h às 8h, nos 94,1 da rádio Atual FM. O site pode ser acessado no endereço www.jornalbrasilatual.com.br e permite ao visitante conhecer o conteúdo da programação. As pautas, aliás, têm linha editorial plural, semelhante à da RdB. Assuntos da política local, nacional e do mundo, economia, cultura, meio ambiente, prestação de serviços, esporte, direitos humanos, saúde e defesa da cidadania são diariamente abordados.

De acordo com Daniel Reis, secretário de imprensa da Central Única dos Trabalhadores em São Paulo (CUT-SP) e um dos responsáveis pelo projeto, a proposta vem sendo bem aceita: “O jornal trata de todos os temas do cotidiano do país, mas a abordagem das matérias é diferenciada. Os cidadãos precisam conhecer todos os lados da história para formar uma opinião crítica, própria. E aqui as matérias relacionadas ao mundo do trabalho e às questões sociais, por exemplo, trazem as informações de um ângulo pouco ou nunca visto nas emissoras comerciais”.

Para Oswaldo Luiz Vitta, o Colibri, diretor e apresentador do jornal, o programa se preocupa em produzir informação de qualidade para uma parcela da população que em geral não tem acesso a jornais e revistas. “Procuro abordar as notícias do dia com uma visão crítica para falar com os ouvintes. O princípio do jornalista deve ser esse, não ser ingênuo e ter sensibilidade”, diz. “A divulgação pela mídia da morte do guerrilheiro Raúl Reyes, número dois das Farc, com ação da Colômbia em território equatoriano, acompanhada da notícia de que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, teria financiado a guerrilha com US$ 300 milhões, é um exemplo de má informação, confusa, suspeita. O Brasil Atual se preocupou em tratar disso de maneira mais responsável, com mais cautela”, destaca.

O programa ainda reserva as sextas-feiras para a cultura e a boa música brasileira. Cantores, compositores, artistas e músicos talentosos, alguns já renomados mas pouco vistos na mídia, outros desconhecidos, encontram espaço para mostrar seu trabalho. Por ali já passaram Osvaldinho da Cuíca, Nei Lopes, Geraldo Filme, Quinteto em Branco e Preto, Tom Zé, entre tantos outros que garantem a diversidade musical no Brasil. Para dona Iná, sambista que conquistou o Prêmio Revelação Tim aos 69 anos, após 50 tentando reconhecimento pelo seu trabalho, o espaço é valoroso: “É fundamental mostrar para as pessoas o que não aparece na TV. Nossa música é muito reconhecida lá fora, meu trabalho é bem aceito em outros países, mas pouca gente me conhece aqui”.

O vendedor Antônio Julio, de 57 anos, é ouvinte assíduo e acha que o jornal acrescenta informações a seu dia-a-dia: “É preciso pôr ao alcance de todas as pessoas um canal de informação que saia dos padrões da grande imprensa. Com isso temos condições de discutir outros assuntos, além de conhecer artistas de ótima qualidade, que não vemos em outros lugares”. Para o engenheiro Nelson Luiz Magni, de 55 anos, a diferença na abordagem das matérias é o que chama atenção: “O jornal tem espaço para as lutas dos trabalhadores, não é comum a gente ouvir isso em outro lugar”.

Com a mudança da freqüência AM para FM, além da qualidade digital, o programa agora tem potencial para alcançar a população de 39 municípios da Região Metropolitana de São Paulo, onde vivem aproximadamente 17 milhões de habitantes. Também conta com o apoio da Abraço na retransmissão de matérias para outras 64 emissoras comunitárias, de diferentes cidades do interior do estado.