Sai Neymar, entra Victor Nhacanhá

mouzar benedito

Vicente Mendonça

Depois de muita conversa, se Neymar deveria ou não ir para o futebol europeu, ele foi.  O pessoal que entende de futebol diz que aqui ele não teria chance de avançar, tornar-se o craque do ano, o melhor do mundo. Dizem que no Brasil ele atuaria ao lado de jogadores de nível mais baixo, e contra times mais fracos que os europeus.

Claro. Se tudo quanto é craque brasileiro vai para a Europa, o futebol de lá fica melhor e o daqui fica pior. Mas não passa pela cabeça desse pessoal que esses craques deveriam estar jogando aqui, nos times brasileiros. Imagine se, em vez de exportar nossos melhores jogadores, tivéssemos aqui Lucas, Kaká, Robinho, David Luiz e mais dezenas de jogadores de alto nível que hoje estão na Europa. Seria ou não um campeonato invejável, com nível acima do espanhol?

Ah… Mas aqui o estilo de jogo perdeu sua força, há esquemas ruins, afirmam. Claro, de novo! Abandonamos o estilo brasileiro, de futebol bonito, alegre e competitivo. Passamos a imitar times europeus, enquanto eles passaram a querer jogar como o Brasil de antes.
Pelé, Garrincha, Nilton Santos, Didi, Zito, Clodoaldo, Gérson, Djalma Santos e muitos outros gênios do futebol não saíram do Brasil, e dava gosto assistir a um jogo quando não acontecia isso de qualquer sujeito que se destaca da média achar que tem de ir para a Europa.

Aliás, isso me lembra uma época em que certas atrizes televisivas e modelos achavam que para ser aceitas como bonitas de verdade tinham de aparecer peladas na Playboy. Agora é assim: jogador de futebol só é craque se jogar na Europa.

Com essas e outras, o futebol jogado aqui vai ficando bem mais feio e ruim.

Será que vão sobrar aqui só os pernas de pau?

Já prevejo o que vai acontecer. O Campeonato Brasileiro pode acabar virando uma disputa de peladas. Vou, então, contar aqui umas histórias de peladeiros, para a gente ir se acostumando com o porvir.

Começo pelo Barroso, apelido dado por gozadores que o consideravam parecido com um sujeito que tinha esse sobrenome e era tido como o mais feio de sua cidade.

O nosso Barroso é um rapaz calmo, nunca ligou para brincadeiras como essa, mas quando entrava no campo de futebol virava uma fera.

Ele jogava na lateral direita, e um dia pegou pela frente um ponta-esquerda driblador e gozador. O sujeito ficou fazendo embaixada na frente dele, com a intenção de lhe dar um chapéu, mas o Barroso não foi na bola. Foi direto na canela dele. E justificou:

— Ele ficou petecando na minha frente… Petecou, eu quebro.

Já o amigo Nicola tinha uma miopia fortíssima, não enxergava meio metro à frente sem óculos. E resolveu participar de uma pelada com a gente. Entrou no campo sem óculos. Mal tocava a bola; ela é que tocava nele de vez em quando. E, quando alguém se aproximava, ele perguntava:

— Você é do meu time ou do adversário?

E tinha o Eduardo. Esse teve um acidente em que bateu com a cabeça no chão e, depois de recuperado, ficou com um problema nos membros do lado esquerdo, controlados pelo lado direito do cérebro, atingido no acidente.

Para andar, não tinha problema, mas para correr tinha. A mobilidade da sua perna esquerda era pequena. Então, durante os jogos, corria com a perna direita e andava com a esquerda. Era muito gozado.

Para finalizar, tem meu amigo Victor Nhacanhá. Seus colegas de trabalho resolveram fazer um campeonato interno de futebol e, pelo seu porte, pinta de goleador, todas as equipes o queriam no ataque. Nunca o tinham visto jogar, mas acreditavam que era um craque. No dia do primeiro jogo, entrou em campo com chuteira nova, calção novo, tudo novo.

Escalado como centroavante, ele chegou lá, onde a bola já o esperava, para dar início à partida. Pegou a “pelota”, olhou para ela com ar de curiosidade e, depois de alguns segundos de contemplação, gozador, ele disse, para desespero dos seus colegas de equipe:

— Então, isso é que é bola?!