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Para Dallari, Forças Armadas devem um mea culpa ao país

Coordenador da Comissão da Verdade afirma que Exército, Marinha e Aeronáutica precisam se livrar de 'uma carga' incompatível com seu papel no Estado

Antonio Cruz/ABR

O coordenador da Comissão Nacional da Verdade (CNV), Pedro Dallari, diz que as Forças Armadas são a única instituição do Estado brasileiro que ainda não assumiram responsabilidades pelos crimes contra os direitos humanos praticados durante a ditadura. Em entrevista a Oswaldo Colibri Vitta, na Rádio Brasil Atual, ele observa que a estrutura atual das Forças Armadas não tem nada a ver com a que participou desse processo. “Quanto antes passar a limpo essa história, antes se livrarão dessa carga. Não tem sentido essa omissão, pois sugere uma cumplicidade que não deveria haver.”

O relatório da CNV será apresentado em 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos. A expectativa do atual coordenador é que o documento possa esclarecer as graves violações dos direitos humanos ocorridas não só durante a ditadura, mas entre 1946, com o início do governo de Eurico Gaspar Dutra, e 1988, ano em que foi promulgada a Constituição. A distância dos acontecimentos e a dificuldade de se obter provas da participação de militares e empresários nos crimes cometidos obstruem a reconstrução da história do Brasil. E grande parte dos documentos do período da ditadura está concentrada nos arquivos das Forças Armadas.

No entanto, Dallari conta que Exército, Marinha e Aeronáutica se recusam a enviar à comissão informações importantes sobre a entrada e a morte de presos políticos nas dependências do DOI-Codi. Segundo as instituições, os arquivos se perderam ou foram destruídos durante o regime. “As Forças Armadas no Brasil sempre se pautaram por um padrão de organização muito bom e de muita qualidade. Eu não consigo acreditar no argumento de que documentos teriam sido destruídos”, afirma.

Para Dallari, não há mais espaço para argumentos de que as violações só foram causadas por excessos e ações clandestinas de alguns, sustentados pela instituição. “A tortura não ocorreu sem que os superiores soubessem. As estruturas de repressão foram montadas administrativamente, com recursos públicos e funcionários públicos.”

Ouça a íntegra da entrevista