editorial

As palavras e as intenções

Joan Guerrero Dom Pedro Casaldáliga defende uma atitude firme para a educação, saúde e comunicação Um boato rapidamente espalhado resultou em uma tragédia em Guarujá, no litoral sul de São […]

Joan Guerrero

Dom Pedro Casaldáliga defende uma atitude firme para a educação, saúde e comunicação

Um boato rapidamente espalhado resultou em uma tragédia em Guarujá, no litoral sul de São Paulo. Uma dona de casa, mãe de dois filhos, foi identificada como uma sequestradora de crianças para rituais demoníacos. Bastou alguns “acharem” que se tratava da mesma pessoa para justificar o ato bárbaro, como se isso fosse tolerável em qualquer circunstância.

Uma informação atribuída a “fontes”, sem identificação, provoca alvoroço no mercado financeiro em questão de minutos. Não é difícil imaginar que alguém ganha com isso, porque não existe almoço – nem jantar – grátis nesse universo. Ganhos financeiros, mas também políticos, à medida que beneficiem esta ou aquela linha de pensamento, menos ou mais favoráveis aos negócios, na visão de quem está fazendo girar a ciranda financeira.

Embora não se possa comparar um caso como o ocorrido em São Paulo, pela sua dimensão humana, com o que se verifica nas bolsas mundo afora, é possível notar que as duas situações têm algo em comum: a circulação de informações. Nem sempre corretas, nem sempre confiáveis. Que podem, no primeiro caso, enterrar reputações e vidas. No outro, dar a governos e países direções que não contemplam os principais interesses da sociedade.
Entra aí o papel dos meios de comunicação, que em seu noticiário econômico não raro privilegia temas de interesse desse chamado mercado, muito mais interessado no superávit fiscal do que na taxa de desemprego. De fora e de dentro do Brasil, jornalistas e “analistas” já enviam sinais nesse sentido, sem contar os polemistas de plantão, sempre dispostos a mostrar, ano após ano, que o país está à beira do colapso.

A quatro meses das eleições, é momento de começar a identificar quem defende quais interesses. Desenvolvimento está na boca de todos, mas alguns entendem que isso só é possível com algum nível de justiça social, enquanto outros pregam a chamada flexibilização, o que a prática tem demonstrado resultar em benefício para poucos.
Que, em tempos de endurecimento do discurso político, valha a inspiração de dom Pedro Casaldáliga (tema de perfil nesta edição), defensor da população mais humilde, a mais necessitada de medidas práticas neste imenso, generoso e injusto país.