Marcio Pochmann

A força aética e antissocial que reage no Brasil

Os endinheirados representados pelas atividades financeiras e pela mídia oligárquica, em sua oposição frontal ao governo Dilma, ilustram o conceito de plutonomia que assola o país

Igo Estrela/Coligação Muda Brasil e Ichiro Guerra/Dilma 13

O segundo turno eleitoral indicará se o Brasil passará a se encaixar no regime da plutonomia ou continuará a buscar um governo de maioria democrática da população

A passagem para o século 21 trouxe consigo o conceito de plutonomia que reconfigurou a trajetória recente da democracia, inicialmente nos países ricos. Segundo comunicado da corporação financeira Citigroup emitido em 2005 aos seus clientes mais ricos, a sociedade estadunidense seria controlada pelo segmento de maior renda, uma vez que seria ela a detentora recente da maior riqueza acumulada de todo o conjunto da população.

Com isso, a principal influência no jogo da democracia política concentrou-se fundamentalmente numa minoria da plutonomia. E a sua maior ameaça viria das exigências políticas da parte majoritária da população em relação à redução das desigualdades dos rendimentos causada pela crescente concentração da riqueza. A plutonomia pode ser definida como ausência de ética econômica e social, caracterizada, por exemplo, quando a ganância em torno de ganhos financeiros são determinante sobre as decisões de governos.

A rápida difusão da plutonomia se deu a partir do reinado das políticas neoliberais, responsáveis pelos ganhos extraordinários obtidos por poucos em função da desregulação dos bancos e da ampliação dos privilégios às empresas de mídia especializada. Dessa forma, um pequeno grupo articulado e formado pelo capital financeiro e oligopólios midiáticos passou a influenciar direta e indiretamente as decisões na esfera pública, com cada vez mais legitimidade nos processos eleitorais. Em síntese, a plutonomia expressa a condição em que a economia passou a ser alimentada pelas fortunas dos ricos, dependendo delas e não mais da majoritária parcela do rendimento do conjunto da população para se expandir.

Ao mesmo tempo, a gestão da economia passou a ser cada vez imunizada em relação à democracia, o que tornou cada vez mais rebaixada a justiça como perspectiva do funcionamento das forças do mercado. Ao contrário do consenso construído anteriormente, a melhora nas fortunas dos ricos foi libertada do bem-estar material do conjunto da população.

Esta realidade em curso nos países ricos tem sido contestada desde 2002, com a eleição do presidente Lula, por duas vezes, e da presidenta Dilma. Já são 12 anos em que a plutonomia que até então governava o Brasil passou a permanecer à margem do processo político principal.

Com a ênfase no combate à exclusão social, especialmente a pobreza e desigualdade de renda, as administrações do PT privilegiaram entre 2003 e 2012 a elevação do bem-estar social, fundamentalmente dos mais vulneráveis. O resultado observado no período se deu na forma de redução na desigualdade da renda, com o avanço do rendimento do trabalho sobre a somatória das rendas da propriedade (lucro, juro, aluguéis e renda da terra).

Essa identidade de que as fortunas dos ricos não se encontram liberadas do avanço do bem-estar material dos pobres redesenhada a partir da primeira década do século 21 no Brasil segue recorrentemente testada pelo processo eleitoral. Um resultado preliminar a ser percebido rapidamente pela votação eleitoral de 2014 é a reação inegável da plutonomia no país.

Exemplificação disso pode ser notada pela opção que a maior parte dos endinheirados representados pelas atividades financeiras e oligarquias midiáticas aponta como convergência a candidatura presidencial que faz oposição frontal ao governo Dilma. Nesse sentido, o segundo turno eleitoral indicará se o Brasil passará a se encaixar no regime da plutonomia ou continuará a buscar um governo de maioria democrática da população.