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O Brasil que vai às urnas é um país dividido

Como em 1930, quando elegeu Julio Prestes, o país se polariza entre o conservadorismo neoliberal e a esperança a ser buscada na segurança do progresso e do conforto material

Juca Varella/Agência Brasil

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Neste ano, o Brasil realizará a oitava eleição presidencial que tende a ser a mais importante para o futuro do país de todas as realizadas desde a retomada do regime democrático na segunda metade da década de 1980. Tal como na eleição presidencial de 1930, quando a nação se dividiu em dois polos distintos, a de 2018 também aponta para a necessidade de profundas mudanças de rota política, econômica e social.

Destaca-se que no passado distante, a Grande Depressão iniciada pela quebra da Bolsa de Valores, em 1929, terminou por desmontar a política do café com leite vigente por 32 anos entre os governos de Campos Salles (1898-1902) e de Washington Luiz (1929-1930). Apesar disso, o candidato à presidência da República Júlio Prestes, que representava a concentração conservadora, buscou atenuar a sangria da crise defendendo que a laranja substituiria o café com a manutenção da política econômica liberal e, assim, a postergação da velha e arcaica sociedade agrária.

Por outro lado, o candidato Getúlio Vargas, ainda que herdeiro do antigo agrarismo, apresentou-se impulsionado por novas ideias da sociedade urbana e industrial, protagonizado por aliança política que mudou radicalmente o curso do Brasil em apenas três décadas. No ano de 1960, por exemplo, o país havia se transformado em sociedade urbana, profundamente diferente do primitivismo vigente na longeva sociedade agrária.

Em 2018, os sinais de transição para a nova sociedade de serviços são evidentes, porém ainda desconectados plenamente do mundo da política e da economia que segue contaminado pelo padrão prevalecente da sociedade urbana e industrial. De um lado, o bloco conservador fundado nas candidaturas presidenciais atraídas pelo discurso de defesa do estancamento da sangria fiscal em torno do discurso e programa de continuidades do receituário neoliberal, como uma espécie de prolongamento do governo Temer.

Em geral, a prevalência de políticas econômicas e sociais que desconstroem o sistema produtivo e a estrutura de classes herdadas da sociedade urbana e industrial, ao mesmo tempo em que generalizam o pânico frente ao visível rebaixamento das condições de vida da maioria da população. O candidato presidencial mais competitivo no interior do conjunto e variado bloco político conservador é o que se assemelha ao de delegado policial a defender a ordem a qualquer preço, mesmo que distante de qualquer alternativa de progresso econômico e social, pois depositório do programa neoliberal.   

De outro lado, o bloco político de oposição, cujo discurso e programa apontam para a salvação da sociedade urbana e industrial, ainda sem muita conexão com a própria necessidade da reconfiguração política, econômica e social da nova sociedade de serviços no Brasil. Destaca-se que desde as eleições de 2014, a quantidade de eleitores com 60 anos e mais de idade supera a do segmento de 18 a 24 anos de idade, enquanto em 2002, por exemplo, havia 2 eleitores jovens para cada um idoso.

Somente esse fato recoloca importantes temas presentes na agenda da sociedade de serviços. Uma população com idade mais longeva, a relação da vida com a sociabilidade, a educação, o trabalho entre outros aspectos tendem a se alterar profunda e dramaticamente.

Diante do desconhecido rumo da nova sociedade de serviços, o país se polariza entre o conservadorismo do programa neoliberal com a versão do medo a valorizar a retórica velha da ordem a qualquer preço e a esperança a buscar na segurança do progresso e do conforto material em oposição ao desmonte da sociedade urbana e industrial.    

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