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Festival nerd busca democratizar o acesso à cultura geek na periferia

Primeira edição do evento será no dia 24 de março, na Fábrica de Cultura do Capão Redondo, na zona sul de São Paulo

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Além de abrir espaço para o público de baixa renda, o evento também debaterá a questão de gênero e raça, o feminismo e as pautas LGBTs durante sua programação

São Paulo – Democratizar o acesso à cultura geek e incentivar a produção de quadrinistas independentes. É com esse objetivo que a PerifaCon realizará sua primeira edição em 24 de março, na Fábrica de Cultura do Capão Redondo, zona sul de São Paulo. Por meio de palestras e oficinas, além da feira de quadrinhos, a ideia é debater a representatividade e questões de classe no mercado. O evento é uma proposta mais acessível e descentralizada da Comic Con – a feira internacional de cultura nerd realizada em São Paulo, na qual o ingresso custa R$ 200, em média.

De acordo com Igor Nogueira, designer e produtor da PerifaCon, um dos objetivos é fazer com que o projeto circule pelas “diversas quebradas da capital”, promovendo uma interação direta e gratuita com os quadrinhos e com produtores independentes. “A gente quer criar o diálogo entre favela e cultura nerd levando o evento para todas as periferia, abrindo espaço pra galera da quebrada que produz conteúdo nerd”, explica.

A quebra de barreiras culturais também é um dos desafios. O youtuber Gil Santos, o Load, um dos idealizadores do projeto Rap em Quadrinhos – que transforma rappers famosos em protagonistas de gibis –, explica que a periferia não é só “jogar futebol e soltar pipa”, e que ela faz parte da cultura pop muito antes de ela “ser pop”.

Para Load, a realização do PerifaCon é um passo importante e necessário. “Temos muitos eventos de cultura pop na Grande São Paulo, mas nunca voltados para esse público. A própria periferia não sabe que isso existe. Demorei para conhecer esse universo, então creio que o evento está abrindo portas, tornando possível o sonho de algumas pessoas fazerem arte dessa cultura”, afirma.

Matheus Polito, um dos criadores do PerifaCon, diz que esses eventos são necessários para criar uma vitrine aos autores e desenhistas que moram nas favelas. “Há muitos autores que vão para fora, como o Ferréz. O evento surge para incentivar mais pessoas a criarem quadrinhos.”

Representatividade

Além de abrir espaço para o público de baixa renda, o evento também debaterá a questão de gênero e raça, o feminismo e as pautas LGBTs durante sua programação. 

A programação contará com oficinas de tecnologia e quadrinhos, feira com artistas independentes e editoras, além dos debates Produtividade e Representatividade Negra nos Quadrinhos com a quadrinista Marília Marz e a artista Lya Nazura. 

Igor é gay. E diz que das sete pessoas da equipe de produção do PerifaCon seis são negros. “Não dá para desvencilhar desse debate racial, de classe ou gênero”, afirma ele, responsável também pela mesa que debaterá a representatividade LGBT dentro das animações.

Recentemente, personagens negros têm conquistado mais espaço nos filmes de quadrinhos. O longa Pantera Negra (2018), um dos favoritos ao Oscar de melhor filme e vencedor do prêmio de melhor elenco do Sindicato dos Atores (SAG) – com um elenco negro –, arrecadou U$ 1,3 bilhão de bilheteria. Neste ano, a Marvel estreou a animação Homem-Aranha: No Aranhaverso, que conta com Miles Morales, um garoto negro, como protagonista.

Load acredita que essas franquias ajudam as crianças negras a criar uma conexão maior com o universo dos quadrinhos. “O Miles (Morales) tem algo que conversa com meu passado. Eu já quis me vestir de Homem-Aranha e ouvi que não podia, porque ele era branco. Hoje, posso dizer que sou ele, porque ele escuta rap e tem um cabelo como meu. Imagina quantos moleques sempre quiseram isso?”, relata. “Representatividade é sempre importante e precisamos mais disso.”

Para não ser apenas “uma feira de HQs”, como conta Igor, a organização lançou um financiamento coletivo, que tinha como meta alcançar R$ 2 mil. Entretanto, no último dia 28, data final para a contribuição, o PerifaCon arrecadou quase R$ 8 mil. Entretanto, eles ainda buscam patrocinadores e já pensam em uma segunda edição do evento.

Os artistas que queiram expor devem preencher o formulário de inscrição e aguardar o contato. Confira o evento da Perifacon no Facebook e assista (abaixo) o vídeo de Matheus Polito, sobre o financiamento coletivo.

“Todos os voluntários estão se dedicando bastante e estou ansioso demais pra ver o evento acontecer”, afirma Igor, “Certeza que vai despertar em muitas crianças o sonho de serem quadrinistas, ou até mesmo o espirito de leitura e colecionismo.”