Lockdown

Fiocruz alerta sobre necessidade urgente de bloqueio total no Rio de Janeiro

Brasil vive crise sanitária de proporções gigantescas; afastamento físico radical com medidas de proteção social são saída contra o coronavírus

Rio de Janeiro precisa parar, defende especialista. Cidade vai alcançando São Paulo em números diários de novos casos de contaminação e de óbitos pelo coronavírus

São Paulo – Os números de infectados e mortos pelo coronavírus sobem todos os dias no Brasil, sem trégua. E mostram, segundo o coordenador de vigilância em saúde e laboratórios da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Rivaldo Venâncio da Cunha, que ainda estamos em franco processo de ascendência da ocorrência desses casos.

“Vivemos uma situação dramática no Brasil. Temos uma crise sanitária de proporções gigantescas, decorrente não somente da pandemia da covid, porque ela já existia antes”, afirma o médico. “Há ocorrência de emergências todos os anos e as redes de atenção à saúde superlotadas.”

Rivaldo Cunha, da Fiocruz, entrevistado por
Glauco Faria no Jornal Brasil Atual

Em entrevista ao Jornal Brasil Atual, Rivaldo Cunha destaca que a crise econômica brasileira foi agravada dramaticamente pela pandemia. “O desemprego, o subemprego, a situação informal de milhões de trabalhadores. Essas duas crises se somando a uma histórica, grave, triste e vergonhosa desigualdade social, um apartheid social construído ao longo de cinco séculos. Tudo isso se somando e gerando uma crise humanitária de proporções inimagináveis nos próximos meses.”

Distribuição de renda

No Rio de Janeiro, alerta Rivaldo Cunha, já faltam leitos gerais e de UTI. “São quase 400 pessoas que diariamente aguardam um leito de terapia intensiva. Então não há outra medida a ser tomada: é o afastamento físico radical (o lockdown) acompanhado de medidas de proteção social que permitam a milhões de pessoas que moram em comunidades carentes, que vivem em favelas, que são desempregados, subempregados, possam aderir”, defende. “Precisamos ter uma política imediata de distribuição de renda para que esse afastamento físico possa ocorrer num grande percentual da sociedade.”

A Fundação Oswaldo Cruz se posicionou. “Não estamos contra ninguém, divergindo de prefeitura, estado, Presidência da República. Estamos convocando um grande movimento em defesa da vida. Nossa preocupação é salvar vidas.”

Bolsonaro na “Lancet”

Sobre o editorial da Lancet, que aponta Bolsonaro como uma das principais ameaças à resposta do Brasil contra a covid-19, o médico avalia que é preciso mostrar à sociedade e aos empresários, que insistem em reabrir seus negócios, que não existe contradição entre CPF (pessoas físicas) e CNPJ (empresas).

“Temos de ter diálogo amplo e mudar a mentalidade de milhões de pessoas que não estão vendo a gravidade do quadro que estamos vivenciando e que vão aprender em lágrimas, porque começarão a ter perda de vidas em suas famílias”, lamenta Rivaldo Cunha.

Confira a entrevista de Rivaldo ao Jornal Brasil Atual