transparência

Brasil tem 707.412 casos de covid-19 confirmados. Mortos passam de 37 mil

RBA passa a apresentar dados de entidades que não compõem a estrutura do governo Bolsonaro, que tenta esconder da população a realidade da pandemia no país

Bruno Concha/Secom
Bruno Concha/Secom
Atual balanço foi feito a partir de dados das secretarias de Saúde dos 26 estados e do Distrito Federal, compiladas pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass)

São Paulo – O Brasil tem oficialmente 37.134 mortes causadas pela covid-19. Foram 679 novos óbitos e 15.654 novos casos registrados nas últimas 24 horas, acumulando o total desde o início do surto em 707.412 pessoas infectadas pelo novo coronavírus. Os dados divulgados hoje (8) foram obtidos com as secretarias dos 26 estados e do Distrito Federal e foram compilados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).

A RBA passa, a partir de hoje (8), a apresentar os dados divulgados pelo Conass, que não compõem a estrutura do Ministério da Saúde do governo Bolsonaro. Desde a última quarta-feira (3), o governo federal passou a censurar o livre acesso às informações sobre a pandemia.

Primeiro, a gestão Bolsonaro alterou a hora de divulgação dos dados, com objetivo de prejudicar a divulgação por parte da imprensa, especialmente os telejornais, como declarou o próprio presidente: “acabou a matéria do Jornal Nacional“, disse, em referência ao principal noticioso da Rede Globo.

Não satisfeito, o governo ainda alterou a forma de contabilizar os mortos. Desde o fim da semana passada, a plataforma de divulgação dos dados do Ministério da Saúde (MS) omite dados importantes sobre a pandemia: o total de mortos, de contaminados, entre outros números relevantes. Bolsonaro teria dito ainda que não queria que fossem divulgados dados de mais de mil mortes por dia.

Dados dos estados

Em nota, o presidente do Conass, Alberto Beltrame, defendeu a transparência nos dados da pandemia. “Nosso valor maior é a vida A defesa da saúde e da vida é nosso compromisso inabalável com os brasileiros. Tendo a democracia como princípio, o Conass busca incessantemente o consenso para o fortalecimento do sistema de saúde que todos desejamos”, disse.

“A ciência, a verdade e a informação precisa e oportuna são fios condutores do processo orientador da tomada de decisão na gestão da saúde. Assim, disponibilizamos o painel atualizado diariamente”, completa em comunicado emitido ontem (7).

Em entrevista coletiva concedida no fim da tarde de hoje, Eduardo Macário, atual secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, disse que o governo reestruturará a publicidade dos dados. Macário disse, inclusive, que realizará reunião com o Conass sobre o tema, a fim de alinhar os números.

Repercussão

O ex-secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde Wanderson Kleber de Oliveira, que trabalhou durante mandatos dos ex-ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, lamentou as recentes ações do governo.

“Não é possível. Eu nunca vi isso, de não divulgarmos informações completas. Isso nunca aconteceu desde 1975, quando foi criado o Sistema de Vigilância Epidemiológica, por uma lei promulgada pelo Ernesto Geisel (1974-1979, em plena ditadura civil-militar). A Lei de Acesso à Informação obriga sites ativos com informações ativas”, disse Wanderson, em uma conversa com o biólogo e youtuber Atila Iamarino.

Wanderson lembrou que toda a estrutura de vigilância sanitária brasileira foi criada a partir de um fato histórico com semelhanças com o cenário atual. No início dos anos 1970, uma epidemia de meningite deixou muitos brasileiros mortos. Na época, a ditadura civil-militar (1964-1985) escondeu as mortes da imprensa e censurou a divulgação de informações sobre a situação da doença no país.

Agora, o governo do ex-militar (expulso das Forças Armadas), Jair Bolsonaro, pela atuação do ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, provocam confusão semelhante na divulgação dos dados da atual crise sanitária.

“Antes de 1975, houve um surto de meningite e o governo da época tentou ocultar (as informações) da mesma maneira. E foi exigida, da mesma maneira, a liberação e a divulgação. Isso deu origem a todo um sistema de informação: de mortalidade, de notificação de doenças transmissíveis. Instrumentos e processos de Estado, e não de governo. É fundamental que tenhamos acesso à informação transparente”, completou Wanderson.

Mais números

De acordo com as secretarias de Saúde, o estado mais afetado pela pandemia segue sendo São Paulo, que tem 144.593 doentes confirmados e 9.188 mortes pela covid-19. Na sequência vem o Rio de Janeiro, com 69.499 infectados e 6.781 vítimas.

Em ambos os estados, os governos estaduais passaram a adotar o relaxamento de medidas de isolamento social. O fim do distanciamento contraria o quase consenso dos epidemiologistas. O Brasil segue em um momento de crescimento das vítimas do novo coronavírus e não existe uma projeção precisa sobre quando o pior deve passar.

Edição: Fábio M Michel


Leia também


Últimas notícias