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Brasil se aproxima de 120 mil mortos por covid-19. Especialista lamenta desvalorização da ciência

Com 984 mortes nas últimas 24 horas, o Brasil chega a 118.649 vítimas da covid-19. “Governo brasileiro precisa rever sua postura ante a gestão de saúde pública”, defende microbiologista

Marcello Casal Jr
Marcello Casal Jr
A circulação do vírus incentivada pelo governo Bolsonaro preocupa o mundo. Periódicos internacionais apontam para os perigos da intensa circulação da covid-19 no Brasil

São Paulo – O Brasil registrou 984 mortos por covid-19 nas últimas 24 horas. O número é levemente inferior ao padrão apresentado nas últimas 11 semanas às quintas-feiras, que se mantiveram sempre acima da casa do milhar. Com o acréscimo, desde o início da pandemia, em março, são 118.649 vidas perdidas para o vírus no país.

Já o número de casos no período foi de 44.235, totalizando 3.761.391 brasileiros infectados pelo vírus. Os números foram levantados pelo Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). As informações não incluem a grande subnotificação de casos e óbitos, denunciada por cientistas e reconhecida por parte do poder público. Por ser um dos países que menos aplica testes para o vírus no mundo, o Brasil segue desconhecendo o verdadeiro comportamento da pandemia em seu território.

Porém, mesmo com apenas cerca de 6% da população tendo passado por algum teste, o país é o segundo mais afetado pela covid-19 no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Entretanto, os norte-americanos, ao contrário, aplicam testes intensamente. Como resultado do descaso do governo federal na condução da pandemia, ontem, dia que a pandemia completou seis meses em solo brasileiro, o Brasil superou os Estados Unidos em mortes por 100 mil habitantes causadas pelo coronavírus..

Desgoverno

Esta semana também foram totalizados mais de 100 dias que o Brasil está sem ministro da Saúde. O governo de Jair Bolsonaro, em pleno período de pandemia, mantém um militar sem experiência na área ocupando o posto como interino. Mas já demitiu dois ministros médicos, Henrique Mandetta e Nelson Teich – por defenderem que o país deveria seguir medidas recomendadas pela ciência, como isolamento social, algo que Bolsonaro, sempre rejeitou.

A chefia da pasta que deveria coordenar as ações de combate à covid-19 está ocupada por Eduardo Pazuello, que não possui formação ou experiência em nenhum assunto relacionado a medicina. Bolsonaro, em seu argumento central contra a quarentena rigorosa, faz uma suposta defesa da economia, em detrimento de vidas. “Uma população saudável é economia para o Estado, é trabalhador produzindo, é capital girando”, contesta o biólogo especialista em microbiologia clinica e professor da Uninter Alessandro Castanha da Silva.

Investimentos

Para Alessandro, a pandemia evidencia a necessidade de rever a postura do governo brasileiro ante a importância da ciência e da gestão plena da saúde pública. “A necessidade de investimento no serviço público de saúde é um ponto a ser considerado. Estratégias de saúde familiar e comunitária, bem como a criação de comitês de emergência em saúde que englobam todas as esferas do poder público apresentaram-se eficazes em situações de combate a outras enfermidades”, disse.

“Infelizmente nosso sistema de saúde passa por décadas de estagnação, e a atual pandemia evidenciou fortemente essa situação. A carência de uma gestão eficaz e de investimentos transformou o SUS de um projeto copiado por outros países em uma realidade triste e defasada de cuidados à saúde (…) Há necessidade de uma discussão mais ampla, onde toda a sociedade proponha-se a rediscutir a saúde, a ciência que é feita em nosso país, onde os valores sociais, éticos e morais sejam revisitados e evidenciados”, completou.

Edição: Fábio M. Michel


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