Pandemia é desigualdade

Bairros pobres de São Paulo acumulam o dobro de mortes por covid-19 que os mais ricos

Em quatro meses, os 20 distritos mais pobres da capital paulista tiveram 4.600 mortes por covid-19. Os 20 distritos mais ricos tiveram menos da metade: 2.137

Reprodução
Reprodução
Desigualdade na capital paulista resulta em um maior número de mortes por covid-19 nos bairros mais pobres da cidade

São Paulo – Em quatro meses, os 20 distritos mais pobres de São Paulo acumularam mais que o dobro das mortes causadas pela covid-19 do que as registradas nos 20 distritos mais ricos. De 17 de abril a 16 de agosto, o número de óbitos nos bairros mais pobres aumentou 9,7 vezes, de 474 para 4.600 (ou 870,5%). Já nas regiões ricas, o total de mortes subiu de 312 para 2.137, o equivale a um aumento de 584,9% (6,8 vezes mais óbitos ao fim do período). Os dados foram disponibilizados pela Secretaria Municipal da Saúde, na última sexta-feira (21).

As mortes registradas apenas nos 20 distritos mais pobres representam 41,8% do total de óbitos registrados em toda a cidade de São Paulo. Os distritos com maior número de mortes acumuladas são: Sapopemba, com 471, na zona leste; Brasilândia, com 384, e Tremembé, com 306, na zona norte; Jardim Ângela, com 349, Cidade Ademar, 346, Sacomã, 345, Jardim São Luís, 338, Capão Redondo, 334, Jabaquara, 318, e Grajaú, 387, na zona sul da cidade.

Casos de covid-19 em São Paulo se concentram em áreas onde trabalhadores não pararam

O maior número de mortes nos distritos mais pobres é explicado, em parte, pelo maior número de pessoas que não puderam deixar de se locomover pela cidade para trabalhar ou buscar trabalho. Também são esses distritos os que possuem menos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com um máximo de oito para cada 100 mil habitantes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda 30 para cada 100 mil. Na capital paulista, 60% dos leitos de UTI estão concentrados em três distritos: Sé, Vila Mariana e Pinheiros.

Organizações e especialistas em saúde pública apontaram inúmeras vezes que a desigualdade na capital paulista ia ter impacto direto na mortalidade da covid-19. “O que nós sabemos é que se nós tivermos que enfrentar para valer a pandemia, nós precisamos agir de maneira contundente sobre a desigualdade social. Sem isso, brancos e mais ricos se preservarão e as vidas negras não vão importar”, explicou o médico sanitarista e ex-ministro da Saúde Arthur Chioro, em comentário no Seu Jornal, da TVT.

Gestão tucana: Para acelerar abertura, Doria libera fase verde com alta ocupação de UTI

O inquérito sorológico da prefeitura de São Paulo também apontou que a covid-19 se alastra seguindo os caminhos da desigualdade social. Trabalhadores informais e aqueles que não puderam fazer home office, desempregados e negros são a maioria dos infectados e das mortes pela covid-19, segundo a análise. “Quem precisou sair de casa para trabalhar teve três vezes mais chances de se contaminar”, confirmou a secretária municipal adjunta da Saúde, Edjane Torreão.

Segundo os dados, 14,3% da população das classes D e E já foi contaminada pela doença. Justamente aquelas que mais precisaram seguir em atividade, por ser a maioria entre informais e desempregados em busca de ocupação e renda. São eles também que cumprem funções que não podem ser desempenhadas em home office, de acordo com o IBGE. Na classe C paulistana, a prevalência do vírus foi de 11% e nas classes A e B, de 4,7%, expondo como a desigualdade aumenta os riscos.

Nos distritos mais ricos, o maior número de mortes ocorreu na Vila Mariana: 184. Depois veem, Saúde, com 179, Tatuapé, com 150, Campo Grande, com 134, Santa Cecília, com 130 e Perdizes, com 126. Região em que o primeiro caso de covid-19 foi registrado, o Morumbi registra 50 mortes.