Vazamento

FUP pede investigação de gestores de alto escalão da Petrobras por conduta antiética

Deyvid Bacelar, coordenador-geral da FUP, fala em intimidação e cerceamento de liberdade, após vazamento de suposta investigação interna por críticas a executivos que participaram de privatização suspeita no governo Bolsonaro

Geraldo Kosinski/Agência Petrobras
Geraldo Kosinski/Agência Petrobras
Dirigente da FUP ainda "desconhece" suposta investigação interna vazada pela imprensa

São Paulo – A Federação Única dos Petroleiros (FUP) anunciou nesta quinta-feira (29) que vai solicitar à Petrobras uma investigação contra funcionários de alto escalão da empresa. A suspeita é de vazamento de informações de um processo contra o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar. O processo administrativo, que ele desconhece, deveria correr em sigilo. Assim, o vazamento teria motivação política, com o objetivo de desgastar o dirigente sindical.

De acordo com a colunista do jornal O Globo, Malu Gaspar, o pedido de investigação interna contra Bacelar, que é funcionário da companhia, teria partido do Conselho de Administração da Petrobras. O motivo seria duras críticas que ele fez a executivos da estatal que participaram da privatização da refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, durante o governo Bolsonaro.

A Petrobras informou que não poderia se manifestar “sobre a existência ou não” de apurações internas em curso. A jornalista, porém, atribuiu a “três fontes de alto escalão” a confirmação do procedimento. Segundo ela, o “tom” das críticas de Bacelar “incomodou conselheiros do colegiado”, que apontaram possíveis infrações ao Código de Conduta Ética da Petrobras”.

“Processos de cunho administrativo são sigilosos. Causa estranheza o vazamento para a imprensa antes mesmo da notificação da parte interessada”, disse Bacelar. Em nota, ele afirmou que, se for notificado, a sua defesa vai analisar se a investigação interna se trata de abuso de autoridade ou de tentativa de intimidação contra a liberdade de manifestação e de expressão. “Essa quebra de sigilo é típica de períodos autoritários e que foram praticados recentemente pela Abin paralela”, criticou.

Privatização suspeita

A privatização da Rlam – atual refinaria Mataripe – ocorreu em 2021. A unidade passou então ao controle da Acelen, empresa do fundo privado Mubadala Capital. O fundo árabe, no entanto, pagou US$ 1,8 bilhão, menos da metade do valor da refinaria. Atualmente, a Petrobras estuda estabelecer um acordo amigável com o fundo para retomar o controle da Rlam.

Em janeiro, a Controladoria-Geral da União (CGU) constatou que a Petrobras vendeu a refinaria abaixo do preço de mercado. Bacelar chegou a pedir a saída de Daniel Pedroso, que era gerente executivo de Integração de Negócios e Participação durante as negociações suspeitas.

“Nós estamos com a CGU dizendo que há problemas nesse processo de venda e o Daniel Pedroso estava no meio dessa baderna toda. Tá na hora dele sair”, declarou Bacelar em um vídeo publicado no Instagram no dia 5 de janeiro. Na mesma data, a Petrobras anunciou a abertura da investigação sobre a privatização da refinaria. O petroleiro ainda lamentou que Pedroso ocupasse o cargo de gerente-executivo de Energia Renovável na atual gestão.

Assim, para o advogado Marthius Sávio Lobato, que representa a FUP no caso, o vazamento de informações sigilosas é uma violação do código de ética da empresa por funcionários que deveriam ser os primeiros a manter a integridade das normas administrativas. Além disso, viola direito fundamental de Bacelar à liberdade de expressão. “Essa atitude tem a intenção, assim como os golpistas fizeram, de criar um sistema de vazamento de informações paralelo, que tem que ser apurado e ter a devida reprimenda”, afirma Lobato.